Desta
forma as composições eram concebidas, para depois passarem
pela química do duplo sentido.
Ainda
em Teófilo Otoni, se sentiam indignados, quando viam pelas ruas
da cidade, índios da tribo Machacali, totalmente discrimados
e desassistidos pelas autoridades locais.
Foi
em Vitória que tomaram conhecimento da existência de uma
tribo indígena que habitava Caieiras Velhas, próxima à
Capital e que eram vítimas do desrespeito da sociedade civilizada.
Caieiras Velhas mais tarde virou nome de show.
Visitando
então aquela civilização, sentiram-se entristecidos
com tanta injustiça social. Os índios estavam maltratados,
realmente excluídos, e a cada dia perdiam sua identidade, sua
cultura.
Realmente
somos inconsequentes quando movidos pela força da ganância,
da conquista, do falso poder, condenando uma nação indefesa,
despreparada á sua extinção.
Para
reflexão – Conforme Júllio & Zéfeliciano
Imaginem
as dificuldades que um cidadão civilizado passaria se fosse conviver
numa sociedade indígena.
Conhecedor de todos os recursos que a tecnologia lhe ofereceu, outra
cultura, outros hábitos, outra língua, estaria totalmente
despreparado para sobreviver naquelas circunstâncias.
Agora
façamos o inverso, imaginemos o índio, colocado em nossa
civilização, trazendo na sua bagagem, a sua cultura, os
seus usos e costumes, a sua dificuldade de comunicação
e a sua desqualificação para o nosso mercado de trabalho.
O que aconteceria com ele? A resposta todos sabem, basta olharmos como
vivem os índios brasileiros. Enquanto no seio de sua civilização
é um cidadão digno do respeito e das oportunidades da
natureza, na nossa sociedade, são discriminados e marginalizados.
Além do mais, com a extensão territorial do Brasil, porque
a preferência pela terra dos índios?
A
sociedade deveria discursar menos e agir mais, palavras sem ação
não rendem sequer algum produto.
Comprometer-se
mais com este problema social, considerando o índio no seu habitat
natural, livre dos flagelos das grandes cidades é o mínimo
de respeito e garantia que devemos dispensá-los.
A
nossa ação junto aos índios, tem os transformados
em agentes predadores da mãe natureza. Para sobreviverem são
vítimas de contrabandistas de madeira devastando matas para venderem
madeiras de lei.
A
depredação da natureza, os anseios dos povos do terceiro
mundo, e a invasão das terras indígenas eram a energia
que movia as composições da dupla.
Dentro
deste fundamento várias canções foram escritas
e gravadas pela dupla no seu primeiro disco e que serão comentadas
mais adiante.
A
intuição dos irmãos já sinalizava que a
sua vida em Vitória parecia estar no fim.
A convivência com o povo capixaba só lhes acrescentara.
Aprenderam a amá-los e já sentiam saudade da Cidade Presépio
só em pensar em deixá-la. O dia da formatura estava chegando.
Nesta
cidade José Feliciano, conheceu Elisabeth, que apresentou ao
Júlio sua irmã que mais tarde se tornariam suas esposas.
Também ali conheceram Xangai, que estava tentando a vida artística
no Rio de Janeiro, e através dele, passaram a freqüentar
o meio artístico da capital carioca.
Chegou
então o dia da formatura, emprego no Brasil nunca foi fácil,
apesar do prestígio e do empenho do amigo, maestro Maurício
de Oliveira nada foi conseguido.
Continuaram
então, a viver de música, na expectativa de arrumarem
um emprego e continuarem o seu projeto, pois sempre acreditaram que
o seu ofício predileto lhes remunerasse de forma que podessem
ter uma vida descente.
Depois
de quase um ano nesta batalha, enviando curriculum para várias
empresas, apareceu a oportunidade de trabalho em Belo Horizonte.
Finalmente
o músico administrador de empresas havia arranjado emprego, na
COPASA MG, em agosto de 1978.
Desta
forma iria trabalhar na profissão, sem contudo abandonar o projeto
que nascera junto com o irmão quando adolescentes.
Enquanto
José Feliciano trabalhava na empresa, Júlio lecionava
violão, e nos finais de semana se apresentavam nas casas noturnas
da capital mineira.
A
criação de novas canções era uma constante
na vida dos dois, eram dois irmãos casados com duas irmãs.
A
idéia do velho projeto, cada vez mais presente nas suas cabeças,
seria agora gravarem um disco de produção independente
e posteriormente negociarem com uma grande gravadora a sua distribuição.
O
projeto amadurecia e neste ínterim, Júlio também
se ingressou na mesma empresa onde o irmão trabalhava.
Zéfeliciano
se preparava para ser pai, pois Beth estava esperando Caroline.
Começaram
então a passar para o papel a idéia da gravação
do disco; estavam determinados a obterem o patrocínio para a
sua conclusão.
A
exemplo das dificuldades vivenciadas, quando da formação
da primeira banda “The Rattlesnakes”, procuraram muitas
pessoas, empresários, para transformarem o sonho em disco.
Depois
de muitas tentativas, resolveram procurar o deputado Aécio Cunha,
um amigo da família.
Passado
alguns dias o amigo os procurou dizendo-lhes que iria ajudá-los.
Assim
provocou entre seus amigos uma roda de samba na casa do seu filho Aécio
Neves, que na época se preparava para a vida pública.
A
situação conspirava a favor deles. Tal evento seria a
grande oportunidade, pois apresentados pelo influente amigo que sempre
gozou de muito prestígio, estavam diante de potenciais patrocinadores.
No
meio da farra, o deputado apresentou o projeto da dupla, e solicitou
aos presentes a colaboração para o custeio das despesas
com a gravação.
Aécio
Neves e o próprio Aécio Cunha que já haviam aderido
ao projeto , cotizaram a quase totalidade das despesas, o restante foi
patrocinado por Adilson Afonso, e a própria dupla.
Com
o aporte financeiro necessário, começaram então
as gravações.
Primeiro
passo foi acertar com o produtor do disco as bases em nível de
produção, arranjos, arregimentação, músicos
que iriam trabalhar na gravação etc.
Para
sua surpresa, foram vítimas do mau caráter do produtor,
que desviou parte do recurso para sua conta bancária, sob a alegação
de que iria comprar as fitas de gravação, que por sinal,
nunca chegaram às suas mãos, resultando mais tarde na
necessidade das providências legais e obviamente o rompimento
com o figura, que por força da lei, foi obrigado a ressarci-los
dos prejuízos.
A
postura deste produtor, cujo nome por questões éticas
não será revelado, fez com que o processo de gravação
se iniciasse através de fitas alugadas.
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