Após
uma semana nesta cidade, continuaram suas andanças conforme previsto.
A vezes as pessoas que lhes davam carona, faziam amizade com Zé,
Júlio e Dudu, pagavam-lhes o rango e diziam-lhes num clima de
brincaderia: - agora antes de partirmos vocês vão tocar
e cantar para nós.
Assim
acabavam atrasando a vigem, em função dos pedidos que
lhes eram feitos pelo público que os assistiam naquelas ocasiões.
Chegando
a Conceição da Barra, hospedando-se na casa do tio Getúlio,
continuaram no mesmo rítimo de Alcobaça, para então
após alguns dias, partirem para Vitória.
Na
capital capixaba tomaram as providências planejadas anteriormente,
pois os recursos financeiros já eram escassos, portanto retornaram
a Teófilo Otoni, para os preparativos finais de sua transferência
de domicílio.
A
chegada a Vitória se deu em março de 1974 depois de muito
empenho da D. Zizinha em encaminhá-los a esta cidade, com o firme
propósito de continuarem com a música, mas em contrapartida,
teriam que cursar uma universidade.
O
Sr. Lourinho, era favorável que ficassem em Teófilo Otoni,
junto aos familiares, e lá cursassem uma faculdade.
A alma cigana dos irmãos sempre os inclinava a conhecer outras
terras, outras pessoas, outras culturas.
Nesta
cidade, além de atenderem às recomendações
da sua mãe, poderiam estudar com o Maurício de Oliveira
que muito lhes acrescentaria a sua bagagem de conhecimentos musicais,
além de ser um facilitador para o seu entrosamento no meio artístico
capixaba.
Coincidência
ou não, o primeiro endereço que foram morar provisoriamente
após a sua chegada, foi na Rua Sete de Setembro, quase em frente
à casa do maestro.
Quando
você está sintonizado em algo que deseja atingir, as energias
se canalizam para o alvo, de forma que tudo parece convergir para ele.
Ali
logo fizeram contato e amizade com o maestro, que era amigo do seu pai.
Na semana seguinte, já estavam aproveitando os seus ensinamentos.
A
preocupação era passar no vestibular, por que isto não
ocorrendo, significaria a sua volta à cidade de origem, como
sabiam, o Sr. Lourinho não dava moleza.
A
chegada dos dois emigrantes à república que iriam morar,
foi motivo de espanto dos colegas, que mais tarde lhes confessaram!
Vocês pareciam mais dois hippies, trajando macacões Lee,
cabelos compridos e instrumentos às costas.
Pensamos!
Estes dois devem queimar um fumo retado., têm pinta de malucos.
O
tempo se passou e vimos que tudo não passava de um engano, apesar
dos trajes, tinham compromissos bem definidos.
Caindo então nas graças dos novos companheiros republicanos,
a vida transcorria num clima de solidariedade e amizade, não
muito comum nestes ambientes, principalmente quando a maioria dos seus
moradores, já estão na faculdade.
Conviver
com estas pessoas, fora uma experiência que agregara valores à
vida de Julizéfeli.
Aprenderam
a cozinhar, lavar, passar, controlar suas finanças, serem tolerantes,
com os múltiplos comportamentos de um grupo diversificado de
indivíduos.
Naquele
ambiente de aspirações profissionais, cada um procurava
realizar o seu sonho.
Chegara
então o dia de prestar vestibular, e José Feliciano fora
aprovado, com boa classificação.
Ingressou-se
então na faculdade de administração, enquanto Júlio
continuava o seu curso de química.
Os
finais de semana eram motivo de disputa e muita diversão entre
os amigos que queriam que tocassem em suas festas, ou fizessem lual
com uma turma cada vez maior, nas noites de lua cheia nas praias do
centro da cidade.
Tocar
, cantar, arrebanhar novos fãs, era muito bom, más cachê
não tinham, a melhor indicação que a situação
requeria para reforçar a mesada, era darem aulas de violão,
fazerem jingles e se apresentarem na noite.
Dada
a simpatia que logo se instalou entre eles e o maestro Maurício,
as coisas tinham transparência de facilidade, pois haviam sido
convidados pelo mesmo para se apresentarem juntamente com os seus alunos
da universidade.
Assim
fizeram várias apresentações em projetos universitários.
As
vezes eram vítimas de ciúmes dos colegas, pois o maestro
costumava reservar-lhes um espaço para apresentarem ao seu lado,
fazendo um virtuoso acompanhamento de violão ou cavaquinho, enquanto
cantavam.
O entrosamento no mercado das noites capixabas, não foi difícil,
freqüentemente estavam tocando nas principais casas da Grande Vitória.
Tanto a noite, como os bailes, são uma boa escola para a formação
do músico, pois o torna cada vez mais eclético.
O
inconveniente de tocar nos bares da vida, consiste em que na maioria
das vezes a música ao vivo, é tratada como música
mecânica, pois o público que freqüenta estas casas,
estão mais voltados para o bate papo e a cervejinha com os amigos.
Mesmo assim, o resultado é positivo.
Mais
tarde integraram o Quarteto Tião de Oliveira, com o qual fizeram
várias apresentações . Esta banda trouxe-lhes boas
oportunidades de desenvolvimento na música popular brasileira,
no jazz e no blues, na bossa nova de Tom Jobim, João Gilberto
dentre outros, uma vez que o Tião era um aficionado nestes gêneros
e detinha muito conhecimento e vivência, além do seu pai,
havia tocado com outras feras da música.
Naquela cidade, viveram felizes, fizeram muitos amigos, e aprenderam
muito sobre harmonia com o maestro.
Sabendo
que os filhos trabalhavam na noite, tocando até altas horas da
madrugada, estavam com boa performance nos estudos, seus pais não
mediram esforços, e presentearam-lhes com um fusca.
Agora
tudo se tornava mais fácil, pois quando terminavam o seu trabalho
da noite, não precisavam ficar a mercê de condução,
como todos sabem, o músico está sempre com uma parafernália
de instrumentos, amplificadores, microfones etc.
Por
ocasião das férias escolares reviam seus familiares ,
amigos e fãs de sua cidade.
Nestas oportunidades, estavam sempre envolvidos nos eventos culturais
da região, levando seus pais a reclamarem que não lhes
sobravam tempo para dedicarem a eles.
A
idéia de formarem uma banda nos idos da sua adolescência,
já não era mais a palavra de ordem, pois os irmãos
eram a dupla Julizéfli, estava dando certo e estavam totalmente
envolvidos em suas composições.
Certos
comportamentos de ordem social e econômico no seu país,
sempre incomodara a dupla, que num grito de conscientização
inspirava as letras das melodias que compunham.
Os
efeitos do capitalismo selvagem, a ganância do capital especulativo
nos paises do terceiro mundo, a falta de liberdade de expressão
que castrava artistas, políticos idealistas, a depredação
da natureza, e o desrespeito ao índio brasileiro, eram temas
retratados nos seus trabalhos, que por razões políticas,
tinham que serem escritas em linguagem figurada, pois a censura se preocupava
principalmente em manter a falsa imagem da ditadura pregada pelos seus
adeptos, como inexistente.
VOLTAR
| PRÓXIMA PARTE