Depois de amargarem os dissabores dos acontecimentos, novamente estavam escalando os degraus imperiosos do seu ideal. Substituir o baterista, não tinha grandes problemas, apesar de suas qualidades de músico, mas e os recursos financeiros! Diante desta realidade, tudo foi tentado na tentativa de que aquela chama, não se apagasse. Bateram à porta de parentes, amigos, e a batalha lhes parecia sem êxito. Sob a alegação de que o grupo era muito bom, mas este tipo de investimento não os atraia, nada foi conseguido. Infelizmente a credibilidade só é conferida aos artistas já consagrados e que estão na mídia. Neste ínterim, o Getúlio havia feito um convite ao José Feliciano para irem para a Austrália. Realmente como os demais, o ex-baterista do grupo também não dava crédito aqueles talentos. Após alguns dias a pensar no abandono dos amigos, encontrou uma razão muito forte para aceitar o convite; poderia trabalhar naquele país, e voltar para buscar os companheiros, assim, tocariam o projeto artístico para frente.

Por dificuldades com a emigração, tal aventura não se concretizou.

De volta a Teófilo Otoni, após alguns meses no Rio de Janeiro, envolvido então com o processo de obtenção de vistos na embaixada daquele país, via-se abatido sem perspectivas.

Tal situação era tratada pelos dois irmãos como um desafio, que por sinal lhes consumia horas a fio à procura de uma saída.

Nesta ocasião o seu pai passava por problemas financeiros, e mesmo liberto de preconceitos, não podia ajudá-los .

Então pensaram: “quando não se pode fazer o que se deve, faz-se, o que se pode”.

Dentro desta premissa, formaram uma dupla, que passou a se chamar Zé e Júlio, nome este dado pelos amigos.

Nesta fase de suas vidas ao lado de seus violões, cantavam todos os sucessos da programação da Rádio Mundial, nos “Pocket Show” nos bares e colégios em que se apresentavam . Quando não estavam trabalhando profissionalmente, saiam com os amigos na noite em serenata pela cidade.

Na maioria das casas em que cantavam eram recebidos com comes e bebes, mensagens de agradecimentos, colocadas pelas frestas das janelas ou portas.

Interessante, quando não tinham acesso ao quintal ou varanda da casa onde ocorria a serenata, cantavam na rua mesmo.
Nestes casos, como medida de prevenção, um dos amigos ficava de vigília na esquina da rua de olho na polícia.
As serenatas em vias públicas, não são bem vistas, pelas autoridades.

O tempo passava e a cada momento, novos fãs, enriqueciam o patrimônio de popularidade da dupla.

A sorte parecia-lhes sorrir.
Getúlio Pereira, após o seu retorno da Austrália presenteou a dupla com duas guitarras Snakes, um who wha, e um jogo de luzes, motivo de muita gratidão dos irmãos.

Ainda na década de 70, o grupo CUMIRA, organizou o festival da canção na cidade, onde se despontaram vários talentos, com canções bem elaboradas, como Nagib, Múcio e Ricardo José, Willys, Milton Carlos e o Grupo Malino o qual a dupla havia fundado, exclusivamente para se apresentarem em festivais, pois muitos dos seus componentes estudavam fora de Teófilo Otoni.

Este grupo com a música Malineza, inspirada na fusão do rock’n roll e percussões afro, de composição dos irmãos estourou na preferência do público que passou a cantá-la nas fases eliminatórias do festival, elegendo-a como sua predileta.

Para surpresa de todos, o júri ficou com a canção, Feira de Artesanato, do Milton Carlos.

Para os irmãos , o resultado foi positivo. Haviam conseguido a consagração do público, e eram a grande revelação do festival.

Além desta música, os jovens compositores participaram também com Segue Pobre Andarilho, também de sua autoria, que em companhia de Rogério Tomich, ex -Rattlesnakes, rendeu-lhes o troféu de melhor conjunto vocal.

As atividades artísticas continuavam em alta.
Logo após o festival, em companhia do amigo Dudu, (Adilson Afonso), montaram o Trio Elétrico Malino que se apresentava nos carnavais de rua da cidade e o show “Épocas”, onde já com o nome artístico de Julizéfeli, fusão de seus nomes de registro, faziam uma retrospectiva de sua carreira, apresentando músicas dos tempos da Beatlemania, Tropicalismo, MPB e suas novas composições tinham raízes na bossa nova, e no samba.

Como compositores e intérpretes, o multi-estilo foi sempre uma carcterística marcante dos irmãos, que mais tarde, seriam observados pela crítica especializada.

Aí se aproximava o momento das decisões que não mais poderiam ser postergadas. Apesar de a música bater forte aos seus corações, para sobreviverem dela, ainda era difícil.
A dissolução do grupo, havia adiado os sonhos de assinarem contrato com uma gravadora multinacional.

Tal situação os levou a se transferirem para Vitória no Espírito Santo, na tentativa de ingressarem numa universidade, estudarem música com o maestro Maurício de Oliveira e, paralelamente retomarem o projeto de profissionalização.

No final de 1973 em companhia dos amigos Dudu e seus violões, realizaram uma aventura que de há muito pretendiam fazer.

Conforme combinado entre os amigos a viagem só poderia transcorrer de carona, portanto estavam dispostos às baldeações entre veículos, e todos as intempéries do tempo.

Com o roteiro traçado, Teófilo Otoni, Alcobaça, Conceição da Barra e Vitória, saíram da cidade natal num dia chuvoso.

Vítória no Espírito Santo seria a cidade onde os andarilhos tomariam as providências para fixarem residência e ingressarem na faculdade.

A Estrada do Boi, principal via de acesso a estas localidades, ainda sem pavimentação asfáltica, estava intransitável, eram raras as pessoas que se arriscavam em transpô-la, pois o trajeto era feito pelos constantes desafios de transpor obstáculos, oriundos dos estragos provocados pelas chuvas.

Após uma hora e meia de espera à beira da estrada, pegaram uma carona numa caminhonete de leite, que os levou até o trevo de Ataléia.
Ali permaneceram ,até que uma outra carona os levou até a cidade baiana de Alcobaça.

Lá ficaram em companhia dos amigos, uma vez que esta cidade é a escolhida pelos seus conterrâneos que a transformam nesta época de veraneio, numa cidade de uma só família.

O dia a dia, dos amigos era aquele clima de praia, muito sol, gole e violão.

À noite após encontro com a galera no Bar Brasil, armavam os esquemas das horas dançantes, e no apagar das luzes, já que ela era desligada às 22 h, saiam com os amigos, para as serenatas que rolavam até altas horas da madrugada.

 

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