Após a apresentação do grupo, ficaram encantados ao vê-los interpretar os seus sucessos, fundamentalmente versões das músicas dos Beatles, e mesmo a música do grupo inglês cantada naquele idioma.

Tornando-se então fã do grupo, passaram a comprar seus discos e a cantarem os seus sucessos.

No auge da “Jovem Guarda”, com o advento da televisão que chegava à cidade, programas locais, inspirados na TV Tupi eram produzidos pela Rádio Teófilo Otoni e apresentados pelo animador e diretor da Rádio, Lourival Pechir; uma pessoa muito importante para a história do desenvolvimento cultural de Teófilo Otoni.

Estes eventos eram um sucesso. Aos sábados a Grande Parada, onde se apresentavam os cantores e grupos locais e aos domingos matinal X7, que era um programa de calouros e que lembrava Chacrinha.

Os irmãos sempre ligados nestes eventos não perdiam tempo, assistiam a todos e, na sua impossibilidade os ouvia pelo rádio, pois sempre havia uma atração de fora que estava despontando no cenário musical do eixo Rio/São Paulo.

Ainda tímidos, não chegaram a se apresentar nestes programas.

A vontade eminente de formarem o grupo, cada vez mais lhes tocava a alma de artista. Passavam horas a fio a desenhar instrumentos, caixas de sons, registrando no bumbo da bateria nomes que imaginavam para o conjunto.

Neste mundo de sonhos, trilhavam pelas vias que Deus lhes reservara .

As dificuldades se manifestavam, quando apreçavam instrumentos e equipamentos de som, ocasião que se sentiam de pés e mãos atados.

Procuravam a família e esta alegava problemas de ordem financeira. Os preconceitos com relação a profissionalização dos jovens músicos eram outro agravante, isto poderia desvirtuar-lhes o bom comportamento .

Em tais circunstâncias, se viam fadados a se resignarem com os seus violões.

Apesar dos pesares jamais abandonaram o projeto, pois os sonhos eram fazer pessoas felizes, ganharem dinheiro, ficarem famosos e ajudarem seus pais.

Seguindo as etapas do caminho longínquo e sinuoso que teriam que percorrer, adquiriram a primeira guitarra, fruto de negociação entre objetos de usos pessoais, sapatos, calça Lee, relógios etc.

Era um instrumento muito velho, mal cuidado que requeria uma boa reforma, mas o que fazer?

Assim através dos familiares, descolaram a grana para a reforma do instrumento.

Bem, com a guitarrinha reformada, era preciso arranjar mais uma, já que eram dois músicos, e foi aí que convidaram Rogério Tomich para juntos formarem um conjunto.

Com a alegação do amigo de que não sabia tocar, disse-lhe Júlio :
Quanto a isso não vejo problemas, sendo talentoso, poderemos ensiná-lo a tocar baixo.

No dia seguinte os três amigos tomaram um baixo emprestado do conjunto “Os Singulares” para tirar medidas do seu braço, pois o modelo do instrumento já estava concebido em suas cabeças.

Era preciso muito cuidado, fazer o braço de um instrumento é algo que requer conhecimento técnico, o mínimo desvio, compromete a afinação e sua tocabilidade.

De posse do instrumento emprestado executaram o projeto, copiando as medidas do seu braço, resultado; a afinação ficou péssima, necessitando então de grandes ajustes, que naturalmente deveriam serem feitos por um luthier.

Mesmo com a revolução proposta pelos Beatles o perfil do músico, era de um boêmio, um desocupado.

Era então discriminado na sociedade, usava drogas, era um hippie, não era tratado como profissional.

Tal paradigma, sem sombra de dúvida era um forte argumento que as famílias encontravam para impedir o ingresso de um jovem músico na carreira.

Com Zé e Júlio não foi diferente, apesar de filhos de músico.

Estaria esta musicalidade, predestinada a um hobbie?

Os jovens achavam que não.

E assim a cada dia, os seus ideais se acendiam nas chamas da intuição. Viam-se famosos com muito sucesso, e felizes com o reconhecimento do seu trabalho, tão digno quanto aos demais.

Naquela ocasião já experimentavam as suas primeiras composições, que apresentavam fortes inclinações para as causas sociais. É bom lembrar que era o início da ditadura militar, instituída no país em 1964.

As vezes compunham letras e melodias, ou apenas faziam versões das músicas dos Beatles.

Num dia de bate papo com o amigo Rogério Tomich, foram informados de que o conjunto, Os Singulares havia se desentendido com Hélio Silva, líder e proprietário dos instrumentos e que os equipamentos usados pelo grupo poderiam estar disponíveis, uma vez que seus componentes haviam adquirido novas unidades.

Como o Hélio era primo do Rogério, as coisas poderiam se tornar mais fáceis, e assim foram procurá-lo.

Ao chegarem à sua casa, foram recebidos pelo seu irmão mais novo, Getúlio, que se inteirando do projeto prontificou-se em conseguir a aparelhagem a título de empréstimo , e assim se tornaria , o baterista do grupo.

No dia seguinte, começava o primeiro grupo, The Rattlesnakes.

Nos anos 60 era moda usar nomes em inglês para os conjuntos, dada a influência da Beatlemania.

Assim o grupo foi formado por, Júlio, guitarra solo e voz, José Feliciano, guitarra base e voz, Rogério Tomich, baixo e voz, Schubert Frossard, órgão e voz e Getúlio Pereira, bateria.

A primeira apresentação dos agora The Rattlesnakes se deu em 1968 na séde do Automóvel Clube de Teófilo Otoni, coroado de muito aplauso.

Os rapazes fizeram tanto sucesso na região que normalmente eram requisitados para apresentações em vários eventos e horas dançantes.

Com o vocal bem empostado, pesado, o grupo se caracterizou pela maneira diferente de tocar e cantar. As vezes preservavam os arranjos básicos das músicas interpretadas, o que lhes rendia o status de melhores intérpretes dos Beatles, ou as vezes personalizava-as imprimindo as mesmas, a própria marca.

Seguindo na estrada da vida, e já sinalizando sucesso noutras terras, o grupo se desfazia, motivo: saída do baterista Getúlio que era o detentor do direito de utilização dos instrumentos do irmão, que resolvera dar continuidade a sua atuação como músico e montar um novo conjunto, voltado para músicas instrumentais.

O dinheiro ganho nas apresentações dos Rattlesnakes, era insuficiente para o porte do investimento requerido na aquisição dos instrumentos necessários, e agora?

Foi como uma bomba que caíra sobre as cabeças dos irmãos.

 

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